Encontrei um antigo (2000) artigo sobre um dos locais que costumávamos frequentar na época do colégio (e um pouco depois também): a boite Capelinha! Creio que a maioria viajará no tempo com este artigo do saudoso Audírio Simões.
Foto: Arquivo pessoal Maurício Amorim/Original P&B |
da moçada" nos anos 70
No início dos anos 70, a pacata Florianópolis de alguns poucos bares boêmios, dos encontros da juventude no Lira e Doze de Agosto e dos caminhos madrugais que levavam às casas de meretrício na Vila Palmira, uma capela em Itaguaçu, transformada em boate, balançou as estruturas conservadoras da cidade, provocando a indignação do clero e o desconforto das autoridades, tornando-se o ponto de referência da juventude, a mais movimentada casa noturna de Florianópolis.
Em 1974, os proprietários restaurante Tritão na praia da Saudade, Zé Ávila e Fábio Bassani, estimulados com o sucesso do restaurante que reunia a fina flor da cidade, decidiram ampliar os seus negócios comprando a área em que estava edificada a capelinha de Itaguaçu. Nunca ficou muito bem explicado como o pároco responsável conseguiu vender o imóvel, que se encontrava desativado com a construção da igreja de Coqueiros. Como a Prefeitura inviabilizou nova construção no local, os proprietários decidiram ocupar o prédio instalando no local no uma boate, batizando-a de Capelinha.
O advogado Maurício Amorim, assíduo freqüentador do Tritão e amigo dos proprietários, assumiu o controle da nova casa noturna, arrendando-a por um preço simbólico, com a sua inauguração abalando as estruturas da sociedade conservadora. A idéia conquistou generosos espaços na imprensa e, na discussão envolvendo o clero e autoridades que se posicionaram contra, a juventude, sem outras opções que não fossem as repetitivas soarês do Lira e clube Doze, e alguns bares sem atrativos na região da Beira-mar, se manifestou favorável, apoiando a iniciativa.
Em 1974, os proprietários restaurante Tritão na praia da Saudade, Zé Ávila e Fábio Bassani, estimulados com o sucesso do restaurante que reunia a fina flor da cidade, decidiram ampliar os seus negócios comprando a área em que estava edificada a capelinha de Itaguaçu. Nunca ficou muito bem explicado como o pároco responsável conseguiu vender o imóvel, que se encontrava desativado com a construção da igreja de Coqueiros. Como a Prefeitura inviabilizou nova construção no local, os proprietários decidiram ocupar o prédio instalando no local no uma boate, batizando-a de Capelinha.
O advogado Maurício Amorim, assíduo freqüentador do Tritão e amigo dos proprietários, assumiu o controle da nova casa noturna, arrendando-a por um preço simbólico, com a sua inauguração abalando as estruturas da sociedade conservadora. A idéia conquistou generosos espaços na imprensa e, na discussão envolvendo o clero e autoridades que se posicionaram contra, a juventude, sem outras opções que não fossem as repetitivas soarês do Lira e clube Doze, e alguns bares sem atrativos na região da Beira-mar, se manifestou favorável, apoiando a iniciativa.
De nada adiantou lideranças religiosas queixarem-se para o prefeito Ary Oliveira sobre o "empreendimento absurdo" de seu chefe de gabinete Maurício Amorim, ou mesmo a indignação do padre Bianchini ao "excomungá-lo" na missa das oito diante de dezenas de fiéis. "O prefeito bem que tentou demover-me da idéia, mas não havia mais como retroceder. Existia uma certa euforia em torno da inauguração da boate. Quanto à atitude do padre Bianchini em me escrachar, não foi a primeira vez que isto ocorreu. Fui excomungado também quando inaugurei o clube Paineiras e programei a primeira soarê em plena Quaresma, ocasião que nem rádio se ouvia."
Foto: Jean Bastos |
Foto: Jean Bastos |
polêmica e dividiu opiniões
As características externas da capela foram mantidas numa primeira etapa. Entretanto, o arquiteto Paulo Rocha apimentou a discussão quando optou por decorar as paredes interiores com figuras do anjo Gabriel, e sugeriu colocar um anjo barroco em que a cerveja jorraria pelo seu pênis. A decoração foi concluída com a instalação de um sino de bronze "furtado" da fábrica de esquadrias do Aldo Kuerten (pai de Guga), que acabou trazendo muito incômodo para Amorim, com a clientela a badalajar o sino depois de algumas doses acima da média, deixando o discotecário Domingos Vicente em polvorosa.
A Capelinha tornou-se exemplo de sucesso, o seu espaço físico acanhado era insuficiente para concentrar tanta gente que ocupava todos os espaços, sendo necessária a presença da polícia para controlar o excesso de pessoas na porta. Os freqüentadores dançavam sobre as mesas de mármore, destruindo-as, e quebrando, involuntariamente, cerca de 60 copos por noite. "A casa tinha capacidade para apenas cem pessoas, mas não foram poucas as noites que reunia cerca de 350. Chegávamos a vender nada menos do que 40 garrafas de uísque numa noite", conta Amorim.
Os freqüentadores inventavam todas as formas para entrar na boate da moda, penetrando pelo telhado do banheiro ou usando maneiras pouco convencionais, como o Airton Oliveira entrando no recinto como se fosse entregador de gelo, equilibrando uma caixa sobre a cabeça. Amorim comandava a casa com mão de ferro, usando a sua reconhecida liderança e batendo de frente com possíveis baderneiros. Boêmio e apostando na fama de garanhão, o Casanova do Ribeirão - origem de sua família - elegia a sua presa e com a qual permanecia dançando e bebendo, após o fechamento da casa, sem ninguém a incomodá-lo.
Na década de 70, as melhores opções de divertimento estavam em Coqueiros. O badalado restaurante Tritão era o ponto de encontro da cidade, com boa música ao vivo, o sambão comandado por Tuca e Detto e disputada feijoada aos sábados, iniciada pela turma de Maurício Amorim, ao encomendar o feijãozinho amigo para o seu grupo de 15 pessoas. No auge da fama o Tritão chegou a servir cerca de 400 feijoadas. Entre 74 e 78, a vida noturna de Florianópolis se resumia entre o Tritão e a Capelinha, além do bar La Piedra, um rancho encravado nas areias de Itaguaçu freqüentado pela boemia de carteirinha.
A Capelinha tornou-se exemplo de sucesso, o seu espaço físico acanhado era insuficiente para concentrar tanta gente que ocupava todos os espaços, sendo necessária a presença da polícia para controlar o excesso de pessoas na porta. Os freqüentadores dançavam sobre as mesas de mármore, destruindo-as, e quebrando, involuntariamente, cerca de 60 copos por noite. "A casa tinha capacidade para apenas cem pessoas, mas não foram poucas as noites que reunia cerca de 350. Chegávamos a vender nada menos do que 40 garrafas de uísque numa noite", conta Amorim.
Os freqüentadores inventavam todas as formas para entrar na boate da moda, penetrando pelo telhado do banheiro ou usando maneiras pouco convencionais, como o Airton Oliveira entrando no recinto como se fosse entregador de gelo, equilibrando uma caixa sobre a cabeça. Amorim comandava a casa com mão de ferro, usando a sua reconhecida liderança e batendo de frente com possíveis baderneiros. Boêmio e apostando na fama de garanhão, o Casanova do Ribeirão - origem de sua família - elegia a sua presa e com a qual permanecia dançando e bebendo, após o fechamento da casa, sem ninguém a incomodá-lo.
Na década de 70, as melhores opções de divertimento estavam em Coqueiros. O badalado restaurante Tritão era o ponto de encontro da cidade, com boa música ao vivo, o sambão comandado por Tuca e Detto e disputada feijoada aos sábados, iniciada pela turma de Maurício Amorim, ao encomendar o feijãozinho amigo para o seu grupo de 15 pessoas. No auge da fama o Tritão chegou a servir cerca de 400 feijoadas. Entre 74 e 78, a vida noturna de Florianópolis se resumia entre o Tritão e a Capelinha, além do bar La Piedra, um rancho encravado nas areias de Itaguaçu freqüentado pela boemia de carteirinha.
A principal artéria de Coqueiros era transformada num grande de estacionamento de carros. Tinham preferência em estacionar na praia do Meio, que ficava a meio caminho entre o Tritão e Capelinha. O pátio do Tritão se transformava num grande motel e os garçons, que já conheciam a clientela, não se aproximavam dos veículos quando o balançar das respectivas antenas assinalavam que os casais não deveriam ser importunados. "Naquela época, no fim-de-semana, principalmente, o pessoal terminava a noite na Capelinha e amanhecia no pátio do Tritão, para dar continuidade à festa", lembra Amorim, ao avaliar que a juventude de hoje é bem mais comportada do que a da sua época: "A gente saía de casa para brigar. Não foi à toa que o Paineiras ficou rotulado como 'Pauleiras'", complementa, sem deixar esconder a cicatriz estampada no nariz, resultado de uma cadeirada durante uma briga no Lira.
A boate Capelinha se manteve imbatível como a melhor casa noturna da cidade até 1978, quando o seu arrendatário, Maurício Amorim, decidiu dar um basta na vida desregrada para casar. "Ficou incompatível conviver com dois modelos de vida completamente distintos", justifica. (AS)
A boate Capelinha se manteve imbatível como a melhor casa noturna da cidade até 1978, quando o seu arrendatário, Maurício Amorim, decidiu dar um basta na vida desregrada para casar. "Ficou incompatível conviver com dois modelos de vida completamente distintos", justifica. (AS)
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